“Ó Pai, não deixes que façam de mim o que da pedra tu fizestes. E que a fria luz da razão não cale o azul da aura que me vestes. Dá-me leveza nas mãos, faze de mim um nobre domador, laçando acordes e versos dispersos no tempo pro templo do amor. Que se eu tiver que ficar nu, hei de envolver-me em pura poesia e dela farei minha casa, minha asa, loucura de cada dia.
Dá-me o silêncio da noite pra ouvir o sapo namorar a lua. Dá-me direito ao açoite, ao ócio, ao cio, à vadiagem pela rua. Deixa-me perder a hora pra ter tempo de encontrar a rima. Ver o mundo de dentro pra fora e a beleza que aflora de baixo pra cima. Ó meu Pai, dá-me o direito de dizer coisas sem sentido, de não ter que ser perfeito, pretérito, sujeito, artigo definido. De me apaixonar todo dia, de ser mais jovem que meu filho e ir aprendendo com ele a magia de nunca perder o brilho. Virar os dados do destino, de me contradizer, de não ter meta, me reinventar, ser meu próprio Deus. Viver menino, morrer poeta.”
[Vander Lee]
[Vander Lee]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Afetos...