Não encontrei o mar revolto
em Pessoa, mas vi em Hilda Hilst seu jeito destemido de ser tão obscena e
obcecada. Não fui moça casadoira como Adélia Prado, eu me inseri na babilônia da
lascívia de Anais Nin, entre a loucura, a delícia e a razão fantasiada. Eu quis
salvar a vida de Ana C. que virou passarinho em Manoel de Barros. Estive com
Clarice, Caio e Mia Couto, mas quis que Guimarães me amasse qual neblina
Diadorim: faltou meu Riobaldo, um rio nosso, terra seca e a boca molhada de
neologismos pra mulher amada.
(Fui quase injusta em desejar que as coisas
tivessem sempre um real tamanho, que as fomes fossem saciadas sempre pelo melhor
gosto, que a chuva só desabasse em tempos de matar a sede.) Tranquei meus dias
ruins nas cores de um Miró aceso. Fui tão constrangedora não sendo infeliz como
escritora, preferindo de qualquer maneira a incerteza da existência da verdade
inteira. Se quase sucumbi num poço de tristeza, me reergo até hoje, constante e
amiúde, fazendo o meu melhor_ fiz o maior que pude. Mas não me preservei: ainda
sou lanhada pelos galhos de matas fechadas que são o meu altar, minha
estrada.
Engulo o amargo da saudade
sem fazer careta, absorvo o azedo da rejeição sem me achar menor, abro os braços
para a escuridão contando estrelas, gasto cada gota de suor e sangue nas minhas
entregas. E não economizo gargalhadas, mas pago o preço alto do inconveniente de
viver no mundo paralelo e metafísico onde vivem as palavras.
Estive em muitas páginas.
Grifei muitos parágrafos. Sorvi tantas inglórias e orgasmos e vitórias.
E estive com você além de
mim. Fui burra, mas foi bom. Fui pura, mas fui tola. E toda a malícia vinda na
hora inadequada me fez desconfiada por tudo, por nada.
Eu tenho um jeito enorme de
amar pra sempre, mas sou desajeitada.
Eu tenho um jeito imenso de
ser comovente, mas sempre concluo as histórias na hora errada.