"Suspiro, anseio secreto revelação de um afeto..."



26 de janeiro de 2010


“'Se algum deles for capaz de entender os versos’, disse Alice (a menina tinha crescido tanto nos últimos minutos que não estava com medo nenhum de interromper o Rei), ‘eu lhe darei seis pence. Eu acho que não há um mínimo de sentido em nada’. Todo o júri escreveu, em suas lousas. ‘Ela acha que não há um mínimo de sentido em nada’. Mas nenhum deles se habilitou a explicar os versos.
‘Se não há sentido neles’, disse o Rei, ‘isso livra o mundo de um incômodo, você sabe, não precisamos procurar um. E eu não sei não’, ele continuou desdobrando o papel sobre os joelhos, olhando para ele de rabo de olho, ‘eu até diria que há algum sentido neles... (...) Então suas palavras têm estilo’, disse o Rei olhando para o tribunal com um sorriso. Havia um silêncio de morte. ‘É uma ironia!’, o Rei completou num tom ofendido, e todos riram. ‘Deixemos o júri considerar seu veredicto’, disse o Rei, mais ou menos pela vigésima vez no dia. ‘Não, não!’, disse a Rainha. ‘A sentença primeiro... depois o veredicto’. ‘Que disparate!’, disse Alice em voz alta. ‘Que idéia imbecil esta da sentença antes!’ ‘Dobre sua língua’, gritou a Rainha, vermelha de raiva. ‘Não dobro não!’, respondeu Alice. ‘Cortem-lhe a cabeça!’, a Rainha berrou o mais alto que pôde. Ninguém se mexeu. ‘Quem se importa com você?’, disse Alice (que acabara de voltar ao seu tamanho normal).
Vocês não passam de um baralho de cartas!’ Nesse instante todo o baralho voou no ar, começando depois a cair sobre Alice; ela deu um gritinho, meio com medo, meio com raiva, tentando rebatê-las. A menina achou-se então deitada no barranco com a cabeça no colo da irmã, que gentilmente afastava algumas folhas secas que tinham caído da árvore sobre elas. ‘Acorde, Alice querida!!’, disse a irmã. ‘Nossa, que sono pesado você teve!’ ‘Puxa, que sonho estranho que eu tive!’, disse Alice. Então ela contou para a irmã, tão bem quanto pôde lembrar, as estranhas aventuras que vocês acabaram de ler. Então, depois que terminou, sua irmã deu-lhe um beijo
e disse ‘Foi um sonho curioso, querida, certamente; mas agora apresse-se, é hora do chá: está ficando tarde’. Alice levantou-se e saiu correndo, pensando enquanto corria que aquele tinha mesmo sido um sonho maravilhoso.”



(Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, cap.12)

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